Nos anos 90 convencionou-se usar o rótulo doom/gothic metal para bandas como Anathema, Paradise Lost, My Dying Bride, The Gathering, Theatre of Tragedy, Tristania, Tiamat e Moonspell, mesmo que poucas delas tivessem algo de gótico (com exceção das duas últimas). O tal do doom/gothic englobava tudo no metal que era melancólico, sombrio ou que usava teclados e vocais femininos – não era lá um gênero muito coeso.
A estética naturalmente se aproximava do cafona. Quando se errava a mão poderia sair algo constrangedor de tão brega, uma sofrência de gosto pra lá de duvidoso. O segundo escalão, então, era repleto de canastrões. Dada esta tendência, é surpreendente como a maioria das bandas da elite do gênero, cada uma à sua maneira, envelheceu tão bem. Os álbuns clássicos resistem ao teste do tempo e as trajetórias dos grupos, caminhando por diversos estilos, são de um bom gosto pouco provável.
O Paradise Lost, com 30 anos de vida, está em um dos melhores momentos da carreira. A fase atual é a mais doom e traz a versão mais pesada, suja e arrastada dos ingleses. O caminho até aqui foi curioso: do começo death/doom do debut “Lost Paradise”, a banda foi ficando menos pesada disco a disco, apostando nos vocais limpos, com o ápice de sucesso no clássico “Draconian Times”. Depois veio a “fase Depeche Mode”, que durou até o “Symbol of Life”, de 2002. Na década seguinte houve um retorno ao som metálico, que resultou no doom atual descrito no começo do parágrafo.

O início do Anathema é similar ao do Paradise Lost: doom metal que foi abrindo mão do peso. Porém, o caso da banda dos irmãos Cavanagh foi mais extremo e já no fim dos anos 90 não havia qualquer resquício de heavy metal em sua música. Apesar de não ser a intenção do grupo (eles detestam todas as bandas de rock progressivo que não se chamam Pink Floyd), o Anathema conquistou um público completamente novo no mundo do prog metal/rock com seus álbuns a partir de “We’re Here Because We’re Here” (2010). Mesmo com reprovação de parte (considerável?) dos fãs da era doom, a discografia do Anathema é cheia de pérolas em todas fases.
O The Gathering é outro que começou no death/doom e poucos anos depois não tinha mais nada de heavy metal em seu som. A mudança aqui foi mais radical e rápida do que com as bandas inglesas da Peaceville: death/doom mesmo apenas o debut “Always”. Depois do esquecível “Almost a Dance”, a banda recrutou Anneke Van Giersbergen e lançou um dos melhores discos da década, “Mandylion”. Seu sucessor, “Nighttime Birds”, teoricamente ainda é um álbum de metal, mas as guitarras pesadas pouco aparecem após a faixa de abertura “On Most Surfaces”. “How To Measure a Planet?”, talvez o melhor da carreira do The Gathering, saiu em 1998 e marcou o início da fase experimental – para desespero da Century Media, gravadora da banda na época, já que este disco duplo não era o que os fãs de “Mandylion” queriam ouvir (na época, ao menos). Hoje é considerado um clássico, mas não foi bem recebido quando lançado. Anneke gravou mais três bons álbuns com o grupo (destaque para “Souvenirs”, de 2003) até sair em 2007. Eles ainda lançaram trabalhos musicalmente relevantes desde a saída da cantora, porém sem o mesmo sucesso.
A história se repetiu com outros nomes do período. Alguns tiveram discografias homogêneas, caso do My Dying Bride, que só deu uma pequena experimentada em “34.788%… Complete” (1998). Outros, como o Moonspell, se aventuraram pelo eletrônico e pelo gótico, até voltar a um som mais metal.
Esta foi uma geração rara, que não teve medo de ousar e que envelheceu bem. Dá gosto de ver tantas bandas ainda lançando discos relevantes e atuais após 30 anos de carreira.
Criamos uma playlist no Spotify, de forma cronológica, retratando a evolução dos grupos desta geração. Escuta aí: